O nascimento da Maria Flor
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Milagres acontecem todos os dias. A gente é que às vezes fica cego para as maravilhas da vida. Mas não devia. Quando um milagre bate à nossa porta a gente tem que tratá-lo com carinho. Alguns milagres são grandiosos, outros chegam de mansinho e transformam a nossa vida sem a gente se dar conta do quão tsunâmicos eles podem ser. A chegada da Maria Flor ao mundo foi um combo de milagres.
Quando a Késsilly me procurou pela primeira vez, ela só queria um orçamento de fotografia para a cesárea que faria. Eu passei. Mas alguma coisa em mim me fez perguntar: você nunca pensou em ter um parto normal humanizado? Ela disse que era o sonho dela, mas que não podia por questões de saúde. Eu ouvi sua história com amor e atenção. Ela tinha uma endometriose avançada e, depois de passar por uma cirurgia bem grande, descobriu que havia nascido sem o ovário direito e com uma das trompas obstruídas. Engravidar naquelas condições seria muito, muito difícil. Fato é que, três meses depois da cirurgia, ela descobriu que estava grávida. Primeiro milagre.
Mas milagres nunca chegam desacompanhados. Naquele momento ela descobriu não apenas que teria um bebê, mas que ele havia sido gerado antes da cirurgia. Ela operou grávida. E Maria Flor, ainda uma sementinha começando a crescer, ficou lá escondida em algum cantinho entre o ovário e o útero da sua mãe. Segundo milagre.
Quando o milagre da Késsilly bateu à minha porta, eu quis tratá-lo com carinho. Eu estava diante de uma mulher incrível e abençoada. Naquela hora, não existia mais a fotógrafa. Éramos duas mulheres que a vida se encarregou de colocar no mesmo caminho. Você sabia que uma cesárea pode ser humanizada? A Késsilly nunca tinha ouvido falar. Ela confiou e topou trocar de obstetra. A Dra Dani Peters foi perfeita. Com o mesmo amor ouviu a história da Késsily. Atestou que realmente o parto normal não seria possível e a partir daí fez tudo – e mais um pouco – que estava ao seu alcance para a cesárea ser linda e respeitosa.
Isso tudo já seria perfeito. Mas tinha mais. O nascimento da Maria Flor teve também a presença amorosa da Bibi, que é enfermeira obstétrica. Ela foi escolhida para estar ao lado da família e ajudar nos primeiros cuidados com a bebê ainda na sala de parto. Durante uma hora Késsilly e Maria Flor ficaram grudadinhas no Centro Obstétrico da Maternidade Curitiba com tudo o que tinham direito: contato pele a pele, amamentação, chamego do pai, playlist rolando na caixinha de som. Sempre sob os cuidados e os sorrisos da querida Bibi. Naquela manhã de domingo – sim, a Dani Peters escolheu o dia e o horário em que a maternidade estivesse mais vazia e não o dia que lhe fosse mais conveniente – eu saí de lá com o coração quentinho.
Milagres às vezes são tímidos. A gente precisa acreditar neles para que eles ousem existir. E é pra isso que hoje conto esta história. Para que a gente nunca deixe de acreditar que milagres acontecem todos os dias, em todos os lugares, de todas as formas.
A gente que trabalha com parto e defende com unhas e dentes a humanização, muitas vezes pensa que só um milagre pode fazer a realidade obstétrica do Brasil mudar. A Késsily me faz acreditar que isso é possível. A Dani Peters me faz acreditar que isso é possível. A Bibi me faz acreditar que isso é possível. Que relatos como esses continuem a inspirar todos que trabalham no atendimento respeitoso ao parto para que a gente nunca deixe de acreditar que a humanização é possível, sim, para todas as mulheres. Desistir não é uma opção. Juntos somos gigantes.
Não tenho dúvidas de que nós passamos a viver num mundo um tantinho melhor depois dessa cesárea humanizada. É assim, de pouquinho em pouquinho, que a gente ajuda a mudar o mundo.
Seja bem vinda, Maria Flor!
Esta história maravilhosa está contada neste vídeo que faz parte do meu projeto Sons do Parto, um registro de parto documental e multimídia. A edição linda e sensível é da Heidi Peters.
Quando a Késsilly me procurou pela primeira vez, ela só queria um orçamento de fotografia para a cesárea que faria. Eu passei. Mas alguma coisa em mim me fez perguntar: você nunca pensou em ter um parto normal humanizado? Ela disse que era o sonho dela, mas que não podia por questões de saúde. Eu ouvi sua história com amor e atenção. Ela tinha uma endometriose avançada e, depois de passar por uma cirurgia bem grande, descobriu que havia nascido sem o ovário direito e com uma das trompas obstruídas. Engravidar naquelas condições seria muito, muito difícil. Fato é que, três meses depois da cirurgia, ela descobriu que estava grávida. Primeiro milagre.
Mas milagres nunca chegam desacompanhados. Naquele momento ela descobriu não apenas que teria um bebê, mas que ele havia sido gerado antes da cirurgia. Ela operou grávida. E Maria Flor, ainda uma sementinha começando a crescer, ficou lá escondida em algum cantinho entre o ovário e o útero da sua mãe. Segundo milagre.
Quando o milagre da Késsilly bateu à minha porta, eu quis tratá-lo com carinho. Eu estava diante de uma mulher incrível e abençoada. Naquela hora, não existia mais a fotógrafa. Éramos duas mulheres que a vida se encarregou de colocar no mesmo caminho. Você sabia que uma cesárea pode ser humanizada? A Késsilly nunca tinha ouvido falar. Ela confiou e topou trocar de obstetra. A Dra Dani Peters foi perfeita. Com o mesmo amor ouviu a história da Késsily. Atestou que realmente o parto normal não seria possível e a partir daí fez tudo – e mais um pouco – que estava ao seu alcance para a cesárea ser linda e respeitosa.
Isso tudo já seria perfeito. Mas tinha mais. O nascimento da Maria Flor teve também a presença amorosa da Bibi, que é enfermeira obstétrica. Ela foi escolhida para estar ao lado da família e ajudar nos primeiros cuidados com a bebê ainda na sala de parto. Durante uma hora Késsilly e Maria Flor ficaram grudadinhas no Centro Obstétrico da Maternidade Curitiba com tudo o que tinham direito: contato pele a pele, amamentação, chamego do pai, playlist rolando na caixinha de som. Sempre sob os cuidados e os sorrisos da querida Bibi. Naquela manhã de domingo – sim, a Dani Peters escolheu o dia e o horário em que a maternidade estivesse mais vazia e não o dia que lhe fosse mais conveniente – eu saí de lá com o coração quentinho.
Milagres às vezes são tímidos. A gente precisa acreditar neles para que eles ousem existir. E é pra isso que hoje conto esta história. Para que a gente nunca deixe de acreditar que milagres acontecem todos os dias, em todos os lugares, de todas as formas.
A gente que trabalha com parto e defende com unhas e dentes a humanização, muitas vezes pensa que só um milagre pode fazer a realidade obstétrica do Brasil mudar. A Késsily me faz acreditar que isso é possível. A Dani Peters me faz acreditar que isso é possível. A Bibi me faz acreditar que isso é possível. Que relatos como esses continuem a inspirar todos que trabalham no atendimento respeitoso ao parto para que a gente nunca deixe de acreditar que a humanização é possível, sim, para todas as mulheres. Desistir não é uma opção. Juntos somos gigantes.
Não tenho dúvidas de que nós passamos a viver num mundo um tantinho melhor depois dessa cesárea humanizada. É assim, de pouquinho em pouquinho, que a gente ajuda a mudar o mundo.
Seja bem vinda, Maria Flor!
Esta história maravilhosa está contada neste vídeo que faz parte do meu projeto Sons do Parto, um registro de parto documental e multimídia. A edição linda e sensível é da Heidi Peters.